4 de Setembro de 1833 – Publicação, por portaria do Ministério do Reino, da ordem para a instalação das Câmaras dos Pares e dos Deputados no Mosteiro de São Bento da Saúde.
Passam hoje 189 anos sobre a portaria que estabeleceu as duas Câmaras legislativas neste Mosteiro (onde, ainda hoje, se situa a Assembleia da República).
Inicialmente as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes reuniam-se na Sala da Livraria do Convento das Necessidades. Após a Vila-Francada, que encerrou o Parlamento, as Cortes voltaram a realizar-se, mas com a Câmara dos Deputados na Casa da Suplicação (Praça do Comércio) e a Câmara dos Pares no Palácio da Regência (Rossio). Estava-se no ano de 1826. Pouco tempo depois foram novamente encerradas, com a aclamação de D. Miguel como rei absoluto (1828). Por fim, na data que hoje evocamos, foram para o Mosteiro de São Bento da Saúde.
Na imagem, o Palácio das Cortes, em 1843. Litogravura de Michellis publicada “Universo Pittoresco”.
3 de Setembro de 1649 – Morre, em Milão, o infante D. Duarte.
Passam 373 anos da morte do irmão do futuro rei D. João IV de Portugal.
Deixou o reino em 1634 para servir o Imperador Fernando III, da Germânia, na Guerra dos Trinta Anos.
Após a Restauração da Independência, a Espanha conseguiu, por via diplomática, que o imperador prendesse o infante D. Duarte na fortaleza de Passau, de onde transitou para a fortaleza de Graz, no sul da Áustria. E, muito embora o rei D. João IV ordenasse aos embaixadores que usassem de todos os meios para libertarem o irmão, pedindo ajuda também ao Papa Inocêncio XII, D. Duarte acabaria por ser vendido aos espanhóis e encerrado no castelo de Milão, onde morreu após oito anos de cativeiro, a 3 de Setembro de 1649.
Na imagem, o Castello Sforzesco de Milão, onde se encontra o túmulo de D. Duarte.
Décimo segundo rei de Portugal, nasceu em Sintra no dia 15 de Janeiro de 1432. Morreu na mesma localidade em 28 de Agosto de 1481. Foi cognominado “o Africano” em virtude das conquistas feitas no Norte de África. Filho de D. Duarte I, sucedeu-lhe em 1438, com apenas seis anos de idade. Por indicação do pai, deixada em testamento, a regência foi entregue a sua mãe, D. Leonor de Aragão, mas passaria em 1429 para o seu tio D. Pedro, Duque de Coimbra.
O País prosperou sob a sua alçada, mas o ambiente político não era o mais saudável, uma vez que D. Pedro interferia com as ambições dos nobres que constituíam, por assim dizer, pequenos reinos dentro do próprio Reino. D. Afonso, Conde de Barcelos e inimigo pessoal de D. Pedro, tornou-se o tio favorito de D. Afonso V, começando a conspirar pelo poder. Em 1442, foi nomeado primeiro Duque de Bragança. Com este título e as terras adjacentes, D. Afonso tornou-se no homem mais poderoso de Portugal e num dos mais ricos da Europa.
Em 1448, já tendo atingido a maioridade, D. Afonso V assumiu o governo, anulando os editais aprovados durante a regência. Com o apoio do tio D. Afonso, declarou D. Pedro inimigo do reino, derrotando-o na Batalha de Alfarrobeira. Concentrou-se então na expansão pelo Norte de África, onde conquistou Alcácer Ceguer (1458), Anafe (1464), Arzila (1471), Tânger e Larache. Concedeu o monopólio do comércio na Guiné a Fernão Gomes, com a condição de este explorar a costa, à média de 100 léguas por ano, o que o levaria – em 1471 – a São Jorge da Mina, onde descobriu um florescente comércio de ouro cujos lucros vieram ajudar o rei nas suas conquistas. Com as campanhas africanas terminadas, D. Afonso V enfrentou novas batalhas, desta vez políticas, na Península Ibérica e na vizinha Castela. Em 1475, na sequência de uma crise dinástica, D. Afonso V casou com a sobrinha D. Joana de Trastâmara, assumindo pretensões ao trono de Castela, que invadiu. Depois de ser derrotado na Batalha de Toro, desistiu para sempre das suas pretensões. O Tratado, então assinado, continha cláusulas respeitantes à política de projecção externa de ambos os países, num momento em que os dois reinos competiam pelo domínio do Oceano Atlântico e das terras até então descobertas na costa africana. Portugal obteve o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, o arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador. Regulamentava também as áreas de influência e de expansão de ambas as coroas pelo Reino Oatácida de Fez, no Norte de África.
Desiludido e com sintomas de depressão, D. Afonso V retirou-se para o Convento de Varatojo em Torres Vedras e abdicou a favor do filho D. João, futuro D. João II de Portugal. Morreu em 1481, quando regressava a Sintra. Está sepultado no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.
Arzila é uma vila norte-africana voltada para o oceano e actualmente situada no Reino de Marrocos. O seu nome deriva do castelhano, que por seu lado assenta na forma árabe de Acila ou Azila. Já num portulano de 1318 surge o nome Arzila.
Afigura-se difícil descortinar os primeiros tempos de existência de Arzila, uma vez que não é certo que a área da actual vila tenha sido habitada de forma contínua desde o período do Império Romano. É possível que as referências clássicas a uma Julia Constantina Zilil ou Zilis sejam, de facto, referências à vila que mais tarde viria a ser apodada de Arzila, mas tal não é certo.
Do século IX datam os primeiros vestígios concretos de ocupação da área de Arzila em questão. Tudo indica que as tribos berberes autóctones ali terão erguido um ribat (torre de vigia) por forma a garantir o controlo das aproximações de navios à costa, uma vez que os desembarques de Normandos – envoltos eles mesmos em lendas – eram uma ameaça real à segurança da povoação. No século X Arzila surge já descrita pelos cronistas árabes como uma pequena cidade amuralhada, com a existência na área de poços de boas águas e de campos cerealíferos, condições que levaram ao proliferar de mercados e bazares no interior do perímetro amuralhado.
Até ao séc. XIII Arzila viveria um período de declínio, uma vez que as dinastias árabes Almorávida e Almôada pouco uso fizeram do porto natural que a vila oferecia. No entanto, é neste século, com a ascensão dos Merínidas, que a vila volta a ganhar importância, desta feita a nível comercial, aproveitando as boas condições naturais do seu porto de mar para levar a cabo trocas comerciais com vários pontos da Europa, nela circulando comerciantes genoveses, catalães, castelhanos e maiorquinos, justamente até ao dealbar do século XV.
Em meados do século XV a vila viria a atrair as atenções da Coroa portuguesa, que desde 1415, com a conquista de Ceuta, vinha intervindo na região. Em 1464, após o fracasso de nova tentativa de conquista de Tânger, D. Afonso V decidiria tentar a conquista de Arzila. Por forma a prevenir um ataque os governantes da vila decidiram render-se, mas as forças portuguesas acabaram por não se conseguir aproximar da mesma devido a fortes chuvadas que aumentaram o caudal do rio Doce, ficando sem efeito a rendição.
Contudo em 1471 D. Afonso V voltaria a África, e desta feita conquistaria Arzila pela força. Começou por enviar à vila enquanto espiões Vicente Simões e Pêro de Alcáçova, disfarçados precisamente de mercadores, para que estes avaliassem o alvo e a melhor forma de o atacar. A 20 de Agosto de 1471 a armada portuguesa aportaria ao largo de Arzila, começando nesse mesmo dia o cerco, tendo desde logo perecido mais de 200 combatentes nos vários naufrágios provocados por uma tempestade. No segundo dia de cerco uma bombarda conseguiria abrir uma brecha nos muros da vila, cuja construção de taipa e tijolo se revelava insuficiente para conter o disparo da artilharia. A 24 de Agosto a vila seria conquistada, justamente na altura em que se negociava a rendição da mesma. Conta-nos Rui de Pina que pelo arraial português terá corrido o rumor de que a vila já havia sido penetrada pelas forças sitiantes. Este rumor motivaria o derradeiro ataque da hoste portuguesa, que seria lançado sem para tal ser dada ordem pelo rei. Nenhum combatente queria perder a entrada na vila, pois tal significava a perda do saque, objectivo que motivaria a grande maioria dos guerreiros portugueses. Como tal, na ânsia do saque – a que podemos, certamente, acrescentar o desejo da fidalguia de mostrar o seu valor marcial perante o rei e deste obter por isso uma mercê – Arzila seria atacada, não conseguindo resistir ao ímpeto do avanço dos sitiadores. Entrada a vila, o ataque ao castelo e à mesquita resultariam num banho de sangue, e no cômputo total terão perecido cerca de 2000 muçulmanos e sido aprisionados 5000, sendo que do lado português apenas se revela o nome dos mortos de maior nomeada, o conde de Monsanto, D. Álvaro de Castro e o conde de Marialva, D. João Coutinho. Conquistada Arzila começou então a reeorganização do espaço de acordo com os modelos administrativos portugueses de então. Antes, porém, D. Afonso V rezou no interior da mesquita, e aí armou cavaleiro o príncipe D. João, futuro D. João II, junto dos corpos dos condes defuntos, num acto de profunda simbologia cavaleiresca. No dia 25 a mesquita seria convertida em igreja, ostentando a partir de então o nome de Nossa Senhora da Assunção. Mais tarde o nome seria alterado para São Bartolomeu. D. Henrique de Meneses, conde de Valença e capitão de Alcácer Ceguer, seria nomeado primeiro capitão de Arzila – um ofício que de resto se manteria até ao abandono da vila no século XVI, sendo que no exercício do mesmo se tenham celebrizado sobretudo membros da linhagem dos Coutinho. Muhammad al-Shayk, governante de Arzila e aspirante ao trono de Fez, ainda tentou recuperar a vila – na altura do cerco encontrava-se com o seu exército a cercar Fez, situação aproveitada pelos Portugueses – mas acabou por chegar a acordo com D. Afonso V, reconhecendo o rei de Portugal enquanto senhor das vilas que possuía na região, além de se estabelecerem tréguas por 20 anos.
D. Afonso V fora entretanto avisado de que Tânger se havia despovoado como consequência directa da conquista de Arzila, pelo que, após alguma hesitação, para lá enviou o filho do duque de Bragança e futuro marquês de Montemor ao comando de uma força de cavaleiros e peões, chegando à cidade a 28 ou 29 de Agosto. Seguir-se-lhe-ia o próprio rei, que na cidade entraria em inícios de Setembro, feliz por finalmente pisar o solo de Tânger, mas de alguma forma desapontado por não a ter conquistado. A conquista de Arzila acabaria ainda por valer a Portugal o retorno das ossadas de D. Fernando, o Infante Santo, por troca com a família de Muhammad al-Shayk, aprisionada no seguimento da conquista.
A vida em Arzila era em tudo semelhante à das restantes praças norte-africanas em mãos portuguesas. A sobrevivência de Arzila dependia dos abastecimentos marítimos vindos do reino e da Andaluzia, além dos saques e pilhagens que pautavam um quotidiano marcado por cavalgadas contra aldeias próximas. A situação de encravamento em território inimigo atingia pontos extremos em determinadas alturas, como foi o caso do cerco de 1508, em que as forças do reino de Fez conquistaram a vila, mantendo-se a resistência, liderada pelo capitão de Arzila e conde de Borba D. Vasco Coutinho, no castelo. Apenas armadas de socorro vindas do reino e de Castela permitiriam a manutenção da praça. Este cerco levaria mesmo a uma série de obras de modernização das defesas da mesma, ordenada por D. Manuel I, e nas quais trabalharam alguns dos melhores arquitectos do período, caso de Diogo Boytac. De resto no século XVI seriam várias as campanhas de modernização das defesas, face à crescente ameaça que constituía a modernização dos exércitos do reino de Fez. Ainda no século XV se abandonara boa parte da vila que fora conquistada, uma vez que os moradores e fronteiros portugueses ali residentes eram em muito menor número, sendo por volta de 500 em 1495. Como tal erguera-se um atalho – um muro – que passava a separar a vila nova da vila velha, sendo esta última abandonada.
O domínio português de Arzila duraria, continuamente, até 1549-1550, altura em que a vila seria despovoada no seguimento da pragmática política de D. João III de abandono das praças norte-africanas face às crescentes dificuldades que resultavam da conquista do reino de Fez por parte do reino de Marrocos, finalizada precisamente em 1549. Em 1577 Arzila voltaria a mãos portuguesas, entregue a D. Sebastião quando este partira para a jornada de Alcácer Quibir, sendo que se manteve em mãos portuguesas até 1589, altura em que Felipe I de Portugal, pressionado por problemas em várias frentes no seu vasto império, a entregou ao reino de Marrocos.
Fontes: Universidade Nova de Lisboa, artigo de Paulo Dias.
21 de Agosto de 1808: Invasões francesas. Termina a Batalha do Vimeiro. As forças luso-britânicas derrotam as tropas francesas de Junot.
Após a batalha de Roliça, em agosto de 1808, o general inglês Wellesley, comandante das forças anglo-lusas que combatiam a primeira invasão napoleónica, com o conhecimento de todos os movimentos do exército francês, queria obrigar o inimigo a abandonar a sua posição em Torres Vedras, para o que marchou diretamente sobre Mafra. Bernardim Freire, então comandante das tropas portuguesas, opôs-se ao acompanhamento da marcha que o comandante inglês tinha em mente. Mas Wellesley, mesmo sem a colaboração do exército português, prosseguiu com a sua marcha, embora com algumas alterações em relação ao que havia sido previamente planeado. Essas alterações foram motivadas não só pela falta de acompanhamento do exército português, como também pela notícia da chegada à costa portuguesa de um reforço constituído pelas brigadas de Auckland e Anstruther (dizia-se que com mais de 40 mil homens de armas). Após ter dado a indicação que o desembarque deveria ser feito em Porto Novo (Vimeiro), partiu para o local para receber o desembarque.
Uma outra brigada, a brigada de Moore, desembarcou na foz do Mondego, com o fim de marchar sobre Santarém. A presença das inúmeras brigadas inglesas em Portugal veio confirmar a falta de confiança que existia em relação ao exército português. A divisão de Moore acabou por não realizar a marcha para Santarém, devido a ordens dos seus superiores no sentido de seguir a expedição de Wellesley.Entretanto o general francês Junot saiu de Lisboa, com o objetivo de se juntar às forças que haviam sido vencidas na batalha da Roliça e à divisão de Loison, que marchava lentamente sobre Abrantes. O ponto de união das tropas francesas era Torres Vedras. A marcha não seguiu pela estrada direta mas sim pela de Vila Franca. As forças que acompanhavam Loison, desde Lisboa, encontravam-se bastante atrasadas em relação ao seu comandante. No primeiro dia de marcha o comandante sentiu-se obrigado a recuar, pois foi avisado que estava previsto um desembarque inglês em Cascais. Deixou em Lisboa, porém, cerca de 6 mil homens para impedir o desembarque.Na noite do dia 20 para 21 do mês de agosto, a artilharia francesa atravessou a ponte de madeira de Vila Facaia. O planalto da Portela, no lado sul da povoação, encontrava-se já ocupado por uma grande parte das forças inglesas. Junot, adiantando-se, fez então um reconhecimento da posição das forças inglesas, para proceder em seguida ao ataque pelo flanco esquerdo. O comandante inglês, que rapidamente se apercebeu da situação do inimigo, ordenou às suas tropas do flanco direito que se deslocassem para norte. A divisão francesa estava disposta em linha. As brigadas da primeira divisão separaram-se, entretanto, e começaram o ataque pelo centro. Os ingleses – e também os portugueses – receberam o inimigo de forma violenta, obrigando-o a retroceder imediatamente e a perder grande parte da artilharia. Para exterminar de uma só vez a coluna que havia atacado pelo centro, Wellesley aproveitou o caos e fez avançar a cavalaria, mas os portugueses fugiram e a cavalaria inglesa, para além de ter sofrido grandes perdas, acabou por ser atacada.Após o ataque que lançou sobre a cavalaria inglesa, o comandante Brenier, com a sua brigada, tentou atravessar a ribeira de Toledo, mas para contornar a frente inglesa que se encontrava no vale, fez uma manobra de “rodeio” pela Carrasqueira. A brigada francesa de Solignac por sua vez logo que atravessou o ribeiro foi atacada por três brigadas inglesas. Os franceses foram assim facilmente derrotados.As tropas francesas ficaram fragilizadas. Junot, desesperado com a situação, mandou Kellermass propor a sua capitulação ao general Dalrymple, que entretanto se tornara comandante do exército inglês.
Painel de azulejos de Jorge Colaço (1864 – 1942) na Estação de São Bento, no Porto: o Infante Dom Henrique na conquista de Ceuta.
CONQUISTA DE CEUTA
A conquista da cidade de Ceuta ocorre em 21 de agosto de 1415. Uma armada com 212 navios saiu de Faro a 7 de agosto de 1415. D. João I, determinado a conquistar Ceuta, comandava uma expedição militar com mais de 20 mil homens.
As razões para a conquista daquela cidade marroquina não são ainda hoje suficientemente claras. Um dos objetivos seria o domínio do estreito de Gibraltar e o controle das rotas comerciais que ligavam o Mediterrâneo à Europa Ocidental.
Há muito que os portugueses olhavam para as praças do norte de África como uma saída para os seus problemas económicos e sociais. Abrir caminho para as rotas do ouro africano, expandir a fé cristã e dominar o comércio além-mar, foram as principais motivações para esta expedição que começou com uma vitória.
Além dos motivos de natureza geoeconómica, havia igualmente motivos de ordem social: a nobreza buscava novas honrarias, terras e rendas e a burguesia estava à procura de novos mercados. Finalmente, o estabelecimento de Ceuta como o ponto mais oriental da reconquista cristã fortalecia a posição do reino de Portugal, no quadro das monarquias ibéricas.
No dia 21 de Agosto de 1415, D. João I entrava em Ceuta e, sem resistência, tomava a “pérola do mediterrâneo”. Dizem os relatos que morreram milhares de mouros e que, do lado dos portugueses, apenas caíram oito homens, apedrejados na praia onde aportaram.
O rei ganhava assim uma cidade comercial importante, ao mesmo tempo que conquistava a admiração dos outros monarcas europeus e da própria Igreja, que apoiava a luta contra os infiéis do Islão.
No regresso da expedição, os navios vieram carregados com os despojos de Ceuta. A longo prazo, as expectativas criadas com a conquista de Ceuta não viriam a confirmar-se. Do ponto de vista económico, o domínio português sobre a cidade revelou-se um fracasso, uma vez que as rotas comerciais que antes chegavam ou passavam por Ceuta (transportando ouro, especiarias e outros produtos) foram desviadas para outras localidades. A situação agravou-se ainda com as elevadas despesas militares necessárias à manutenção da praça africana.
A cidade foi reconhecida como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Em 1640, porém, Ceuta não reconheceu D. João IV como rei de Portugal e deixou de estar sujeita à Coroa portuguesa. A incorporação nos territórios espanhóis foi depois consagrada na assinatura do tratado de 1668, que pôs fim à Guerra da Restauração portuguesa, mantendo-se até aos nossos dias.
A conquista de Ceuta marca o início dos descobrimentos, um dos períodos mais importantes da história de Portugal.
Em 1509 o governo da Índia foi confiado a Afonso de Albuquerque, que procurou ir mais além da actuação do seu antecessor, o Vice-Rei D. Francisco de Almeida, isto é, tentou assegurar para a coroa portuguesa o monopólio do comércio das especiarias.
Em abril de 1511, Afonso de Albuquerque zarpou de Goa para Malaca com uma força de cerca de 1 200 homens e 17 ou 18 navios. Malaca tornou-se uma base estratégica para a expansão portuguesa nas Índias Orientais, subordinada ao Estado Português da Índia.
A cidade portuária de Malaca controlava o estratégico estreito de Malaca, por onde todo o comércio de alto-mar entre a China e a Índia estava concentrado. A captura de Malaca foi o resultado de um plano do rei de Portugal D. Manuel I, que em 1505 havia resolvido impedir o comércio muçulmano no Oceano Índico, através da captura de Ádem, a fim de bloquear o comércio através de Alexandria, a captura de Ormuz, a fim de bloquear o comércio através de Beirute, e Malaca para controlar o comércio com a China.
A conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque em 10 de agosto de 1511, garantiu aos portugueses o controlo das importantes trocas comerciais que aí se desenvolviam entre Oriente e Ocidente. Da fortaleza inicialmente erguida resta somente a “Porta de Santiago”.
Malaca, ou “Melaka” em malaio, foi uma base importante para a expansão portuguesa nas Indias Orientais no século XVI.
Não só em termos comerciais mas também da fé católica e, apesar das ocupações holandesa e inglesa, que destruíram grande parte dos vestígios da presença lusitana, ainda recentemente se descobriram novos segmentos da fortaleza a que Afonso de Albuquerque chamou “A Famosa”.
Em ruínas, mas visível também, encontra-se a Igreja de São Paulo, e na cidade passeia-se por ruas com nome português. O culto de Fátima é outra herança da passagem portuguesa por uma cultura maioritariamente muçulmana.
Mesmo depois de os contactos com Portugal cessarem em 1641, a comunidade cristang preservou as suas tradições, religião e língua, mantendo surpreendentes semelhanças culturais e linguísticas com Portugal. A comunidade “cristang” é uma pequena comunidade de Malaca, na Malásia com origem em antepassados portugueses que remonta aos descobrimentos. A comunidade cristang fala a língua cristang, um crioulo de base portuguesa, sendo que “cristang” significa “cristão” nesta língua.
Em 2008 foi declarada Património Mundial pela UNESCO. Da presença portuguesa na cidade sobrevivem a Igreja de São Paulo e a Porta de Santiago da Fortaleza de Malaca, conhecida como “A Famosa”.
1- Ruínas da Igreja de S.Paulo, de Malaca, e estátua de S. Francisco Xavier
2- Ruínas da Igreja de S. Paulo, de Malaca, sendo visíveis encostadas na vertical junto às paredes várias pedras tumulares
3- Porta de Santiago da Fortaleza de Malaca, conhecida como “A Famosa”.
4- Afonso de Albuquerque (Alhandra, dezembro de 1452 — Goa, Estado Português da Índia, 16 de Dezembro de 1515)
Em 16 de agosto de 1945, na China, era capturado pelo exército vermelho soviético, o Imperador Pu Yi, último imperador da China.
Quase ao mesmo tempo, também capturaram a Imperatriz Wanrong, que, apesar de doente, foi colocada numa jaula onde as pessoas podiam ir vê-la, “como se fosse um animal de circo”. Em 1946 ela foi deixada de alimentar, tendo morrido de fome e separada do marido.
Pu Yi foi o 12° imperador da dinastia Qing e último imperador da China, de 1908 a 1912, quando foi forçado a abdicar, pela república proclamada em fevereiro de 1912.
Depois de deposto e humilhado pelos republicanos chineses, o imperador fica exilado na embaixada do Japão até 1934 onde é restaurado ao trono como fantoche dos japoneses até 1945.
Quando a Segunda Guerra Mundial termina, o monarca é capturado pelos soviéticos e enviado para um Gulag na Sibéria.
Em 1950 é entregue aos comunistas chineses que o aprisionam num campo de trabalho forçado.
Com a autorização do presidente Mao, a partir de 1959 começa a trabalhar como jardineiro e bibliotecário.
O imperador faleceu em 1967, esquecido, sem deixar descendentes.
15 DE AGOSTO DE 1517 – OS PORTUGUESES CHEGAM À CHINA.
Este é o primeiro contacto direto da Europa com a China. Uma armada de sete navios portugueses, comandada por Fernão Pires de Andrade, encontra-se com oficiais chineses no delta do Rio das Pérolas.
Em 17 de Junho de 1517, saiu de Malaca com destino à China a frota de Fernão Peres de Andrade enviada pelo Governador da Índia Lopo Soares de Albergaria, transportando o boticário e naturalista Tomé Pires como embaixador e o já experiente Jorge Álvares. A frota chegaria a Tamão /Tamau (Lintin, Ilha de Lingding / 內伶仃㠀) a 15-08-1517, onde se encontrava Duarte Coelho que a procedera, e, em fins de Setembro, a Cantão. Tendo conseguido permissão para Tomé Pires seguir para Pequim, Fernão Peres de Andrade fez-se de vela de regresso a Malaca, em fins de Setembro de 1518. Tomé Pires aguardou viagem em Lantao (Ilha de Lantau /大嶼山)
Devido as delongas do cerimonial chinês, Tomé Pires parte de Cantão e depois de demorada estadia em Nanquim, chega a Pequim em 11 de Janeiro de 1521. Com a morte do Imperador Zhengde / 正德 (1506-1521) a embaixada de Tomé Pires foi convidada a sair de Pequim para Cantão onde as autoridades locais já tinham recebido ordens para prenderem todos os membros da mal-aventurada embaixada devido aos desacatos praticados por Simão Peres de Andrade, na Ilha de Tamau. Chegou a Cantão, a 22-09-1521 e como os portugueses não quisessem obedecer à ordem de abandonar o Império Chinês foram roubados e presos Tomé Pires, Vasco Calvo e António de Almeida, tendo este morrido à entrada da cadeia, devido aos tormentos das algumas e outras torturas. Tomé Pires morreria em 1524 na China.
“E se mais mundo houvesse, lá teriam chegado.” Luís de Camões – Os Lusíadas, Canto VII.
14 de Agosto de 1433: Morre D. João I, “O de Boa Memória”.
Monarca português, filho bastardo de D. Pedro I e de Teresa Lourenço, dama galega, nasceu a 11 de Abril de 1357, em Lisboa, onde faleceu a 14 de Agosto de 1433. Décimo rei de Portugal (1385-1433), foi o fundador da dinastia de Avis ou Joanina, sendo conhecido pelo cognome “de Boa Memória”.
Educado por um mestre da Ordem de Cristo, foi nomeado, com apenas seis anos, Mestre da Ordem de Avis por D. Pedro I e armado cavaleiro. Durante o reinado de D. Fernando, seu meio-irmão, começa a desempenhar papéis de certo relevo, como o da negociação do casamento de D. Beatriz com o rei de Castela. A rainha D. Leonor Teles vê no Mestre de Avis um obstáculo e um adversário na sua influência sobre D. Fernando, sendo D. João considerado o chefe dos que se opõem à acção de Leonor Teles e do Conde Andeiro. Após a morte de D. Fernando, em 1383, entra-se num período de agitação e de crise na sucessão da Coroa, dado não haver herdeiro varão e D. Beatriz estar casada com o rei de Castela. Estava ainda em causa a independência nacional.
Formam-se dois partidos, um a favor e outro contra D. Beatriz como rainha de Portugal, e D. João aceita a chefia do movimento popular que luta contra a hipótese de Portugal vir a ter um rei estrangeiro. Este movimento tem o apoio da burguesia. Assim, participa no assassínio do Conde Andeiro e é proclamado “regedor e defensor do Reino”. Prevendo a invasão do país por Castela, que queria impor os direitos de D. Beatriz, começa a preparar a defesa, onde se vai destacar Nuno Álvares Pereira. Segue-se um período de lutas em que se salienta a Batalha de Atoleiros e o Cerco de Lisboa, por terra e mar, em 1384, durante vários meses.
Em Abril de 1385 reúnem-se as Cortes em Coimbra, onde, pela acção e grande poder oratório do Dr. João das Regras, D. João é eleito rei. A luta contra Castela e seus partidários vai continuar, e, em 14 de Agosto de 1385, obtém-se uma grandiosa vitória na Batalha de Aljubarrota, a que se segue a vitória em Valverde. Pela vitória em Aljubarrota e em cumprimento de uma promessa, D. João I manda construir o Mosteiro da Batalha, um belo exemplar da arte gótica. A luta com Castela e seus partidários vai continuar, mas mais esporadicamente, até que em 1411 se estabelece em definitivo a paz.
Entretanto, em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, na sequência do Tratado de Windsor, celebrado com a Inglaterra. Desta união nascerá a “Ínclita Geração” – D. Duarte, Infante D. Pedro, Infante D. Henrique, D. Isabel e Infante D. Fernando, o Infante Santo.D. João I, que subiu ao trono com o grande apoio que teve das massas populares e da burguesia, quando as lutas com Castela estabilizaram, começou uma política centralizadora do poder, reduzindo a influência do clero e da nobreza, apropriando-se dos bens dos que eram apoiantes de Castela, espaçando a reunião das Cortes, e procurando reaver algumas das terras doadas.
É no reinado de D. João I que têm início as conquistas no Norte de África e que começa a gesta dos Descobrimentos, pela acção do Infante D. Henrique. Assim, em 1415 dá-se a expedição a Ceuta, que é conquistada em 21 de Agosto. Após a sua conquista são armados cavaleiros, na mesquita daquela praça-forte, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D. Filipa de Lencastre. Após o regresso de Ceuta, o infante D. Henrique vai dar início à epopeia dos Descobrimentos.
No reinado de D. João I são descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Tem início, igualmente, a colonização dos Açores e da Madeira.D. João I era um rei culto, dada a sua formação na Ordem de Avis, e, por isso, mandou redigir a Crónica Breve do Arquivo Nacional, mandou traduzir o Novo Testamento e vidas de santos, e escreveu o Livro da Montaria.
Em 1412 associou ao governo do reino o seu filho D. Duarte, que lhe sucederia. D. João I faleceu em 1433 e encontra-se sepultado no Mosteiro da Batalha.
D. João I. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.